Equilibrar saúde e elegância no salto alto é uma tarefa assumida diariamente por Marcela Olmedo Mc Gowan (e grande parte das mulheres), assim que deixa as pantufas ao lado da cama.
Em cima de um salto anabela, Marcela, 22 anos, está no penúltimo ano da graduação em medicina e não abandona os centímetros extras propiciados pelo calçado nem quando está de jaleco atendendo pacientes. A experiência diária deu a ela uma série de estrategias para aliviar o impacto, todas na ponta da língua algumas.
De uma forma parecida com a da futura médica, o professor de cirurgia vascular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), João Potério Filho, também dedica parte do seu tempo para orientar suas pacientes sobre o uso do salto alto. Até pesquisa científica ele já produziu sobre o assunto.
O Delas ouviu Potério Filho, a estudante Marcela e outros especialistas para desvendar este acessório tido como o grande vilão dos pés – e ao mesmo tempo um herói do figurino. Para deleite das mulheres, alguns estudos mostram que o sapato de salto alto traz benefícios à circulação e também fortalece a musculatura da região genital feminina. Apesar destes benefícios, é importante ficar alerta: não vale recorrer à técnicas sem comprovação científica para amenizar as dores e nem negligenciar os vasinhos e outros sinais de que os pés estão sendo exigidos em excesso.
Tamanho é documento
O cirurgião vascular José Potério Filho fez com que suas pacientes andassem na esteira de salto alto e, assim, chegou ao tamanho ideal de salto. No “estudo de marcha”, ele concluiu que saltos de até 5 centímetros ajudam a bombear mais sangue e a diminuir a pressão nas pernas.
“Mas isso não vale para as pessoas que tem ojoelho em X ou pé chato”, diz o médico. “Para quem não tem estes problemas, não há contraindicação e o uso é até indicado.”
Além do tamanho, é preciso dar atenção à estabilidade. O salto muito fino facilita os entorses e os desequilíbrios (quedas), por isso não é indicado.
“Um dos sinais de que a mulher não está adaptada ao sapato que usa é a postura. Se estiver com o tronco muito para frente e com a lombar muito curva (bumbum empinado), é indício de que está fazendo muito mais esforço para caminhar”, orienta o especialista.
“Por isso, os homens – caso usassem – teriam mais dificuldades com o sapato. A estrutura física deles é diferente. A coluna é mais rígida e a lombar menor.”
Dica na prática: A estudante de medicina Marcela – ela fez até um blog com lançamentos de marcas diversas e dicas de uso – confessa que algumas vezes é preciso “sacrificar os dedinhos em favor da moda.” Para diminuir os efeitos nocivos do uso, ela reitera que prestar atenção ao tamanho do sapato pode aliviar os prejuízos. E nem sempre o truque está na altura do salto.
“É muito importante observar se o calçado serve direito. Geralmente um pé é maior que o outro. O ideal é comprar o número que calça o maior pé e adaptar o outro com um palmilha.”
Fortalecimento muscular
Além de ajudar na circulação sanguínea – desde que respeitados a altura e o formato dos saltos – uma pesquisa italiana afirmou que o uso também favorece o fortalecimento da musculatura pélvica feminina, o que pode prevenir problemas como incontinência urinária e também facilitar o caminho até uma vida sexual mais satisfatória.
Maria Cerruto, urologista da Itália, afirmou à BBC de Londres que avaliou 66 mulheres com menos de 50 anos e concluiu que as que passavam algumas horas por dia com os pés inclinados – como se estivessem em cima de um salto de 5cm – ficavam com os músculos pélvicos em posição ideal e com maior capacidade de contração.
A pesquisadora reforçou que a técnica não pode ser usada como terapia para quem tem pouco tônus muscular na região – para isso existe fisioterapia específica – têm alguma queixa na vida sexual, mas que traz um dado positivo para as adoradoras de salto.
Botox como anestésico?
Para definir um sapato como perigoso ou não, as mulheres costumam olhar o tamanho do salto – o que, de fato, é uma dica válida – mas não se pode esquecer do bico do calçado.
“Mais do que um salto fino, o que ameaça a estabilidade é o bico fino”, orienta a professora de moléstias vasculares da Unicamp, Ana Terezinha Gullaumon. “Quando o pé fica em forma de triângulo, a pressão aumenta e o equilíbrio diminui. Isto dificulta a articulação do tornozelo e também da musculatura da perna.”
Justamente os sapatos que mais transformam os pés em triângulos são os elegantes scarpins, modelo preferido dos tapetes vermelhos, das passarelas, das atrizes e das que querem estar com tudo em cima nas festas e reuniões. E, em nome disso, algumas clínicas têm oferecido tratamentos preventivos às dores do salto.
Segundo a imprensa norte-americana, para tentar driblar as queixas, as mulheres dos Estados Unidos estão procurando as clínicas de estética para aplicar botox no calcanhar, tornozelo e peito do pé.
De acordo com o que descreveram os coordenadores da clínica Birkdale ao periódico Daily Maily, o procedimento consiste em aplicar as toxina botulínica para proteger da dor os nervos dos membros inferiores.
Em território brasileiro, informou a Allergan – fabricante do botox –, não há informação sobre o uso da toxina para este fim. O laboratório afirmou ainda que não há, por ora, comprovação científica do medicamento para esta finalidade.
Varizes, dores e meias
Um trabalho feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) – ao acompanhar 10 mulheres – associou o uso constante de sapatos de salto ao desenvolvimento de joanetes e dores no corpo (em médio e longo prazo). O alerta da médica Ana Terezinha Gullaumon é: os sintomas doloridos são mais frequentes em quem já tem problemas vasculares e não procura ajuda.
“O sapato de salto não vai provocar varizes ou vasinhos. Quem tem estes problemas não precisa parar de usar salto. Deve, sim, procurar o médico para solucioná-los”, afirma a especialista.
“Ficar muito tempo sentado, muito tempo em pé, no trabalho e trânsito prejudicam a circulação. Então, além do salto, o ideal seria usar as meias elásticas”, orienta.
Dicas e alternativas: Enquanto a indústria não encontra uma forma medicamentosa para proteger as mulheres das dores causadas pelos saltos altíssimos e pelos bicos finos – e também enquanto o trânsito e as horas de trabalho não dão trégua – a estudante de medicina Marcela indica: hoje existem opções mais confortáveis como sapatos de plataforma e também os saltos meia pata, que ajudam a compensar a altura do salto e facilitar a vida de quem que usar salto, mas não tem o costume.
“Vale ressaltar que é perfeitamente possível estar elegante com calçados baixos como sapatilhas e rasteiras”, completa a futura médica.”
Nenhum comentário ainda.