Outro dia, em um bar, escutei o papo das garotas da mesa ao lado (já disse que bisbilhoto conversas alheias, não?). Uma delas defendia que, em um amor verdadeiro, não há espaço para segredos. Tudo precisa ser compartilhado o tempo todo. Jurou que ela e o namorado não escondem nada entre si. Orgulham-se de conhecer o lado oculto um do outro e de saber conviver com isso. Muito meigo. Mas ainda acho que esta história de ser um livro aberto precisa de limite. Porque alguma verdade será incômoda demais e manter uma ilusão ou outra até faz bem.
Apaixonar-se é como usar o Istagram nas fotos mais ordinárias do celular. No início, costumamos idealizar a pessoa adicionando filtros bacanas que maquiam um pouco a realidade. Ele(a) é lindo(a), divertido(a), esperto(a), carinhoso(a), nunca acorda com o pé esquerdo, jamais vai dormir de cara amarrada. Com a convivência, porém, conhecemos as manias chatas e as histórias mais comprometedoras – todos guardamos as nossas. E sempre haverá um segredo mais difícil de digerir. É aquele esqueleto no armário que pode quebrar o encanto e colocar você em estado de alerta.
Conhecer completamente alguém é impossível – além de desnecessário. Eu gosto de esconder comigo certas passagens da minha vida, alguns medos que sinto e pensamentos mesquinhos, rancorosos ou invejosos que passam pela cabeça de todo mundo de vez em quando. Também prefiro não revelar todos os meus desejos e anseios, seja para não azará-los ou apenas por parecerem bobos demais até para mim. É importante, mesmo sendo parte de um casal, aprender a preservar a individualidade de cada um. Nem tudo é para ser compartilhado.
Em vez de se revelar de uma vez só, sou a favor das doses homeopáticas. Afinal, ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo, não é? E ninguém tem direito de cobrar transparência total. Cada um sabe quando pode confiar algo ao parceiro. Em alguns casos, aliás, este momento nunca chega. Lembre-se daquele senhor italiano de 99 anos que, um ano atrás, pediu o divórcio. Seu Antonio e dona Rosa estavam casados desde 1934. Mas, no início do relacionamento, a esposa pulou a cerca. Perto de celebrar bodas de carvalho, ela confessou o antigo casinho. E ele não curtiu o par de chifres – mesmo com data de validade vencida.
Tem gente que faz uma verdadeira investigação sobre o outro para descobrir qual o peso da bagagem que ele carrega. Vasculha tudo, das redes sociais às gavetas, atrás de uma sujeira qualquer. Mas deve-se respeitar aquilo que não foi dito, pois confiança se conquista aos poucos. Os segredos que forem realmente importantes para definir um relacionamento acabam se revelando naturalmente, mesmo se a gente não planeja expor. Além disso, há verdades que, no fundo, nenhum de nós quer ou está preparado para ouvir.
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