Já chegou nos 35 anos e acha que não pode mudar de profissão? Engano seu. Especialistas garantem que é possível, sim, tomar novos rumos a qualquer momento. Basta consciência e organizaçãoVocê está há anos no mesmo emprego e não encontra satisfação no que faz? Talvez seja a hora de tentar algo novo para a sua vida. O que? Já passou dos 35 anos e a vida toda você ouviu falar que o mercado de trabalho não tem espaço para aqueles que já têm determinada idade? Bobagem! Não é bem assim. Com planejamento e disposição é possível mudar de carreira a qualquer tempo e retomar as rédeas da felicidade profissional.
Segundo a coaching Valéria Ritis, existem as pessoas que escolhem mudar de carreira e aquelas que se veem diante de uma situação de mudança. “Normalmente quem decide mudar de carreira é porque não está satisfeito e aí podemos encontrar vários motivos: falta de retorno financeiro esperado; não ter feito a escolha desejada no início da vida profissional; frustração ou desencanto com a área em que atua. Nesses casos, a expectativa é que o profissional faça sua transição de carreira de forma consciente e planejada”, analisa.
Foi o que aconteceu com Patrícia Pessanha. Há dois anos e meio a dentista virou patissière et boulangère. A mudança na carreira veio aos 37 anos. “Já havia algum tempo que eu estava insatisfeita com a odontologia, achava uma profissão muito solitária. Sentia necessidade de usar minha habilidade manual para exteriorizar e criar. Foi quando comecei a fazer um curso profissionalizante de pâtisserie e boulangerie (confeitaria e panificação) e minha visão de cozinha aos poucos foi mudando. No início, era apenas um hobby: eu gostava de passar os finais de semana confeccionando pães e doces, harmonizando sabores e depois convidar amigos para degustação. Mas, aos poucos, fui descobrindo um mundo totalmente diferente ao que eu vivia e comecei a perceber que aquilo me fazia mais feliz. O prazer de ver as pessoas saboreando e elogiando as minhas gourmandises era indescritível”, conta.
Diante de tanta aceitação, Patrícia resolveu transformar sua paixão em negócio e abriu uma empresa de doces finos para eventos. Passou por algumas dificuldades, mas não desistiu. “O novo é sempre difícil de ser adaptado. Imaginar que eu estaria em uma nova profissão tendo colegas com 20 e poucos anos era desafiador. Minha grande aliada nessa etapa foi a maturidade. Ela me fez persistir na decisão e correr atrás dessa empreitada. Ela faz com que o difícil se torne um pouco mais fácil”, explica.
Já Luciana Santiago, 38 anos, está há seis meses “em outra”. Ela se preparou durante um ano para essa mudança, o que lhe deu segurança financeira. Deixou o emprego de 15 anos como administradora em uma rede de restaurantes e resolveu investir em fotografia e produção de eventos. “Foi a atitude mais difícil da minha vida, mas a insatisfação no meu trabalho foi o que me fez ver que era hora de mudar e encontrar a felicidade e a realização profissional. Lá eu estava segura, mas não realizada”, diz.
Apesar de muitas pessoas desejarem mudar, a prática não é nada fácil. “Tudo que nos tira da zona de conforto gera certo incômodo, mas mudanças devem ser encaradas positivamente, pois mesmo se forem negativas à primeira vista, sempre nos trarão algum aprendizado que levaremos como experiência para a vida toda”, pondera Valéria. E mais: é necessário driblar muitas dificuldades nesse período e, para isso, motivação é algo fundamental.
No caso de Patrícia e Luciana, o incentivo veio, principalmente, dos maridos. “Meu marido foi – e ainda é – meu principal incentivador em todos os momentos da minha vida. É sempre importante ter uma pessoa ao seu lado para te dar apoio nessas horas de mudança. Conseguimos, assim, encarar o novo com mais tranquilidade. Não posso também deixar de citar minha sócia Isadora como grande parceira e motivadora”, lista Patrícia. Luciana também tem motivação dentro de casa. “Meu marido falava para mim que nesta vida temos que realizar nossos sonhos. Sem o apoio dele – em todos os aspectos – não teria conseguido”, ressalta.
E deu certo para as duas. Mudança feita, é hora de colher os frutos. Um dos principais aspectos positivos de toda essa movimentação, de acordo com Valéria, é o fato de uma pessoa realizar um trabalho do qual ela realmente goste, crescendo e melhorando a sua qualidade de vida. Patrícia e Luciana concordam. Mais completas e cheias de prazer na vida, agora elas se sentem realizadas. “A realização profissional não vem de quanto ganho, mas daquilo que me dá prazer em fazer e me faz mais feliz. A união dos dois é consequência de um belo trabalho feito e é assim que me vejo”, declara a patissière. Já a fotógrafa acrescenta: “Faço o que amo com muita felicidade. Sou muito mais feliz com esta mudança que posso chamar de radical”.
As duas conseguiram planejar a troca de profissão. Mas e aqueles profissionais que não decidiram mudar e são “surpreendidos” no meio do caminho com uma mudança de carreira forçada? “Nesses casos é ainda mais importante analisar o contexto e fazer uma avaliação de sua vida profissional. O quanto a pessoa buscou desenvolvimento e atualização em sua área? Como tem conduzido seus relacionamentos profissionais? O quanto tem se dedicado genuinamente a seu trabalho? O quanto tem buscado equilibrar vida e carreira? E, acima de tudo, reconhecer seu potencial. Quais são suas competências? O que pode melhorar?”, questiona Valéria Ritis. A coaching diz que reconhecer-se profissionalmente é imprescindível para manter autoestima em dia e conseguir conduzir com tranquilidade e equilíbrio a mudança.
Para quem está em busca de uma mudança de carreira, olho vivo! A especialista faz um alerta: o mercado de trabalho é cruel sim! “Não adianta querer negar que há uma resistência do mercado para quem já passou dos 35 anos, ainda que hoje seja muito menor do que alguns recentes anos atrás. Após a euforia com a expectativa de contratação de jovens talentos, o mercado percebeu que essa geração tem, sim, muito potencial e competências positivas, mas muitos ainda não estão prontos para assumir responsabilidades que demandam mais maturidade”, justifica.
Luisa Chomuni Alves, Gerente de Negócios da FIT RH Consulting, completa. “Há dez anos esse cenário realmente era mais complicado e os profissionais mais velhos tinham dificuldade em continuar no mercado. Hoje, no entanto, muitas empresas já flexibilizam, valorizando características que estão presentes nesses profissionais, como experiência, conhecimento e maturidade. Há ainda que se destacar que, geralmente, os mais sêniores trazem as melhores práticas, pois já estão prontos, e formam sucessores”.
E o que fazer diante da “crueldade” do mercado? Valéria aconselha reconhecer seus pontos fortes e fracos. “Trabalhar em seu autodesenvolvimento, atualizar-se, procurar saber o que está acontecendo na sua área de atuação e agir proativamente na busca de novas oportunidades. Cada um deve ir atrás de seus objetivos, não ficar esperando que as coisas aconteçam e jamais ficar criando cenários futuros negativos”, explica.
Então, para aqueles que já estão chegando aos 35 anos mas desejam tentar a mudança, Luisa dá um conselho. “A carreira que escolher tem de trazer felicidade, prazer, satisfação pessoal e profissional. Vale destacar que deve ser algo bem planejado, até porque a mudança de área para os profissionais mais velhos é certamente mais difícil do que no início da carreira. Por isso, todos os prós e contras devem ser muito bem analisados”. Já Valéria diz que a energia do pensamento pode construir o sucesso ou o fracasso profissional. “O impedimento maior está dentro de cada um. Quando entendemos isso, não há mercado cruel que nos impeça de ter sucesso na carreira”, finaliza
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