Em vez de agulhas e máquina de costura, um tripé e um bastão chamado de prisma. Não faz nem seis meses que a costureira Antônia Maria Rodrigues, de 37 anos, trocou as medidas de busto, cintura e quadril das clientes pelas larguras dos terrenos em que avalia a topografia de uma construção. Foi tempo suficiente para ela concluir: lugar de mulher também é na obra. E, no caso dela, no canteiro do Bairro Carioca, em Triagem.
– Trabalhar de costureira é com roupa leve, aqui você tem que estar mais vestida. A gente vai aprendendo o modo de falar e se comportar. Você escuta coisas que não quer ouvir, muito palavrão… aí fico sem graça, envergonhada. Era a primeira vez trabalhando numa área em que só tinha homens, e meu marido não gostou muito da ideia. O início foi difícil, mas agora já estou acostumada – conta ela.
Sem experiência no mercado, que é majoritariamente masculino, ela conseguiu a vaga com a ajuda de um amigo, pastor da igreja que frequenta.
– A área de costura é muito difícil. Hoje em dia, você compra o tecido, tem a mão-de-obra, e as pessoas não querem mais pagar o mesmo valor. Estávamos precisando, e meu marido entendeu a mudança – explica a costureira.
Dominando a nova profissão, foi preciso mudar o guarda-roupa. Saias, decotes e saltos altos foram aposentados. Em cena agora só botas, calças jeans e camisetas. Adaptada, sim. Mas sem vaidade, jamais. Na bolsa, o kit com batom, espelho, blush e lápis de olho continuam com lugar garantido.
– Sempre gostei de usar maquiagem. Mas no dia que coloco um batom, todo mundo brinca e comenta. Sandálias de salto nessa área não pode, tem que ser bota. Mas quando eu vou embora coloco minha roupa normal – diz Antônia.
Ela não está sozinha. A responsável pelo controle de qualidade da obra Cristian Agapito, de 25 anos, admite que ficou surpresa com o respeito da ala masculina.
– O que eu pensei que fosse o mais difícil é o mais fácil: o respeito mútuo. Mas a vaidade e a profissão andam juntas. Sei que trabalho num ambiente masculino então não pode muito decote, tenho essa consciência. Então, a gente deixa para se produzir fora do trabalho. Dentro do trabalho é só bota, camisa da empresa e jaleco – concorda a colega.
Fonte: Cidade Olímpica
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