Deixar que o amor siga seu caminho é tão importante quanto vivê-lo de forma plena. Não se trata de fracassar, mas de ter sabedoria para reencontrar sua essência.
Existe amor eterno? O rito do casamento traz embutida a ideia de que deve durar para sempre e que isso depende do nosso comportamento. Se você não abandonar na tristeza, na doença, na pobreza, o relacionamento se mantém. Vira uma enorme responsabilidade. Mas a gente não é dono do amor – ele pode durar ou não. É o que explica o psicólogo Roberto Gambini, de São Paulo, nesta conversa franca:
Como saber se o relacionamento chegou ao fim ou se merece mais chances?
É difícil perceber, porque você pode olhar para coisas secundárias: “Pensamos de forma diferente”, “Brigamos demais”. É natural que existam falhas. Mas às vezes os dois estão fazendo direito e o amor se comporta como um perfume: fica um tempo no ar e depois se esvanece. Esse término depende de como foi o começo. Existem dois tipos principais de relacionamento. No primeiro, o casal busca bem-estar, quer adquirir bens, aumentar o prestígio social, construir uma família bem-sucedida. Um fica puxando o outro para cima: “Eu queria que você fosse mais isso, mais aquilo”. No segundo, as pessoas se juntam para evoluir. Às vezes, nem há riqueza material. Eles se amam porque são do jeito que são. Não estou julgando nenhum dos tipos, porque ambos são baseados no amor. Aquele que vive do bem-estar acaba em litígio por causa do patrimônio. O que era motivo de orgulho vira troféu de guerra. No outro, o amor se transforma em aceitação. E quando existir traição? Numa relação de bem-estar, é um trauma, pois desestrutura todas as crenças alimentadas por anos. No outro tipo, não vira um ataque pessoal.
É possível atravessar essa fase de um jeito leve?
Sempre há tristeza – mas de formas diferentes. Para quem preza o material, tem de ter raiva, porque é da natureza daquela relação. Senão, vira doença emocional e depois física. Para quem está no outro modelo, a perda é como um tecido que se rasga. Dói porque dói, não importa se há objetos ou dinheiro na história. Até os filhos encaram de forma mais saudável, já que não veem os pais se odiando e têm a chance de notar que os dois querem ter uma vida diferente. Não estou dando uma receita. Apenas observe que o ser humano funciona dentro de estruturas sociais. É preciso descobrir qual delas você tem escolhido.
Depoimento
“Vivi uma paixão avassaladora com meu ex-marido. Mas entre nós não havia harmonia nem parceria. Ficamos casados por cinco anos e tivemos uma filha, a Gabi, hoje com 5. Depois que ela nasceu, nossa convivência piorou. Eu tinha parado de trabalhar e de estudar e ele precisava bancar as despesas, mas não administrava bem as questões financeiras e profissionais. Eu ficava louca! Quando Gabi completou 8 meses, voltei a trabalhar e terminei a faculdade. Já formada e com um emprego melhor, decidi colocar um ponto final na relação. Fui morar com meus pais e fiz terapia. Aprendi que precisava ser corajosa e separar o luto, que é natural, das minhas culpas imaginárias. Hoje sei que fiz a escolha certa.”
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