Porque algumas coisas viram moda, mais que isso, verdadeiras febres? Roupas, acessórios, nomes, pessoas? No livro “Vítimas da Moda”, o sociólogo Guillaume Erner explica que quando escolhas individuais passam a se tornar coletivas estamos diante de um modismo. Na visão do sociólogo, só há uma pessoa forte suficientemente para te levar a seguir uma moda: você mesmo.
Somos nós que alçamos algo à moda. Não os estilistas e nem as revistas. O estilista francês Christian Lacroix foi um dos primeiros a reconhecer que “a rua é perigosamente criadora.” E, agora, mais do que nunca, a moda se rende à ela.
Valeska Popozuda na revista Vogue de março talvez seja o exemplo recente mais expressivo do intercâmbio entre as ruas e a moda. A funkeira, musa das periferias há 14 anos, foi ganhando fama com sua música provocativa e uma carreira marcada pela polêmica, como o episódio envolvendo o “Funk do Lula”. Ao mesmo tempo, o funk saiu do gueto e conquistou patricinhas a celebridades, que se deixaram levar pelo ritmo dançante e pela batida marcante.
O ápice de Valeska veio mesmo com o clipe “Beijinho no ombro”, em que aparece com figurinos provocantes numa mistura de referências de cantoras pop internacionais e uma letra debochada cujo refrão virou “bordão”. A novidade é que a letra de “Beijinho no ombro” deixa de lado o erotismo e acerta na identidade da nova classe média emergente, que não está nem aí para o que se fala dela.
Não deu outra: foi uma das atrações de um dos bailes de Carnaval mais glamourosos do país, organizado pela revista Vogue. Ou melhor, foi A atração: bombou nas redes sociais dando “beijinho no ombro” ao lado de celebridades globais e fez até os mais “blasés” do meio da moda dançarem até o chão.
Numa época em que as vidas estão expostas em redes sociais na maioria das vezes ostentando (afinal, ninguém posta o lado B de sua vida, só a melhor parte), talvez o bordão criado por Valeska tenha soado como o grito reprimido por muitos – o “e daí?”.
E a moda, que vive na eterna busca por novidades, abraçou Valeska como nova estrela pop. Ou melhor, a moda só refletiu a escolha de muitos, e alçou à musa aquela que, na verdade, foi eleita pelas ruas.
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